sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Crawling from the Wreckage






Grant Morrison, et al (2004). Doom Patrol, Vol. 1: Crawling from the Wreckage. Nova Iorque: DC Comics.

Quando Grant Morrison pegou no obscuro grupo de super-heróis inadaptados que é Doom Patrol, abriu a porta dos comics mainstream para o seu peculiar estilo narrativo, esotérico e surreal a roçar o psicadélico. Este primeiro volume da sua temporada aos comandos da série é um vasto assemblar de elementos. Começa com os membros da equipe, desmoralizados, deprimidos e dispersos, que inevitavelmente confluem ao ver o mundo a ser ameaçado pelo tipo de entidades que só eles sabem combater. A sua primeira grande ameaça é um mundo paralelo, criado como experiência de pensamento por cientistas, uma variante à Morrison da ideia borgesiana do mapa enquanto território. Orqwith passou de ideia a local, e envia à nossa realidade homens-tesoura capazes de cortar os humanos do real para os transmutarem em habitantes de um irreal cada vez mais tangível. O outro grande desafio é Red Jack, entidade quase divindade que se veste como uma máscara barroca veneziana, e vive num mundo ao qual só se pode aceder conjurando palavras ao acaso. A equipe em si é um primor de problemas. O homem-robot sente a falta da sua humanidade, e alia-se a uma paciente de um hospício cujas múltiplas personalidades têm todas super-poderes. A criatura negativa entra por campos alquímicos, provocando um casamento místico que funde os corpos físicos do seu anfitrião habitual e de uma médica que teve a má fortuna de estar por perto no momento da fusão. Já Niles Calder, o eterno líder da equipa, mostra a sua vontade férrea enquanto dá abrigo a Clay, um médico que se recusa a usar os seus poderes, e a Dorothy, adolescente inadaptada capaz de invocar criaturas de pesadelo com a sua imaginação. Personagens inadaptados, profundamente magoados e incompletos, que lutam contra ameaças surreais. Será esse o tom que marcou de forma indelével esta série clássica.